Ministério da Saúde lança protocolo para incentivar parto normal no Brasil
País está entre os recordistas em cesarianas. Em média, são realizadas, por ano, quase 60% de operações desse tipo
Segunda-feira, 04/04/2016 - Categoria: Ginecologia e Obstetrícia
O Brasil está entre os países com número recorde de cesarianas. O Ministério da Saúde lançou um protocolo para incentivar o parto normal. Em média são quase 60% de cesarianas por ano. De cada dez mulheres, seis cesarianas. A cesárea é indicada em situações específicas.
A Josilene está ansiosa. Já completou 41 semanas de gestação e espera ter o filho de parto normal.
“A recuperação é mais rápida, mais tranquilo, né? Acho que até pra mãe e pro bebê é melhor”, acredita a secretária Josilene Sousa.
Fernanda também queria que os dois filhos tivessem nascido de parto normal. Mas foram duas cesáreas. Ela conta que no primeiro parto, o desestímulo veio do médico.
“Ele falou assim: ‘Olha, é uma opção é sua. Eu tô aqui, mas eu não vou poder ficar o dia todo. Se você quiser fazer uma cesárea, a gente faz em cinco minutos’”, contou a dona de casa Fernanda Pedrosa.
Falta de disponibilidade do médico, de leitos nos hospitais e até uma questão cultural, são os motivos que, segundo o Ministério da Saúde, levam o Brasil a ter um número exagerado de partos cirúrgicos.
Um levantamento feito pela Organização Mundial da Saúde com 194 países mostra que o Brasil e a República Dominicana são os que têm o maior percentual de cesáreas. Só no ano passado, foram 56% em média.
Na Argentina, 29% dos bebês nascem de cesárea. Nos Estados Unidos, 33%. E na França, 21%.
A comparação é ainda mais impressionante quando se observa os partos feitos nos hospitais privados, onde 84% dos bebês nascem de cesárea, de acordo com o Ministério da Saúde.
O governo considera esse índice uma epidemia. E decidiu lançar um protocolo para orientar profissionais de saúde e tentar reduzir o número de cesarianas.
O protocolo diz em que situações a cirurgia é recomendada. Por exemplo: para prevenir a transmissão do vírus da Aids da mãe para o bebê; para mulheres que tiveram herpes no último trimestre de gestação; para gestantes que já fizeram três ou mais cesáreas; e para mulheres que ficaram cicatriz vertical no útero por causa de uma cesárea anterior.
O secretário de Atenção à Saúde do governo diz que o médico, obviamente, tem autonomia para avaliar e decidir o que é melhor para a mãe e para o bebê na hora do parto, mas lembra que uma cesariana feita sem necessidade pode provocar danos à saúde do bebê, aumentar os riscos de problemas respiratórios e até de mortalidade.
“O que nós estamos querendo fazer na publicação desse protocolo é alertar a sociedade médica, alertar a sociedade em geral de que nós estamos ultrapassando um número razoável de cesarianas e de indicações desnecessárias – aumentando, sim, o risco tanto de mães quanto de bebês”, explica o secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Alberto Beltrame.
A boa notícia é que em alguns lugares essa cultura já começou a mudar.
No município de Itapetininga, em São Paulo, de 2014 para 2015, o número de partos normais subiu de 49% para 51%.
Na rede particular, a mudança começou com um curso oferecido às mães que mostra os benefícios do parto normal.
Nos hospitais públicos, enfermeiras orientam as mães e falam sobre os riscos da cesariana.
“A gente não diz que é um parto, a gente diz que é uma cirurgia de grande porte, que veio pra salvar vidas da mãe e do bebê. Então, quando ela é indicada, ela supera os riscos. Agora, quando não indicada, os riscos são muito maiores do que o benefício”, conta a enfermeira Carolina Costa.
É uma cultura que tem que mudar. A Agência Nacional de Saúde Suplementar, a ANS, informou que o projeto Parto Adequado, desenvolvido em 42 hospitais do país, conseguiu aumentar de 20% para 27% a taxa de partos normais entre os participantes no prazo de seis meses.
Fonte: G1