Médico passa a recomendar ultrassom mensal para gestantes com zika
Quarta-feira, 10/02/2016 - Categoria: Ultrassonografia Geral
Com o avanço de casos suspeitos de microcefalia ligados ao vírus da zika, médicos estão recomendando que grávidas com diagnóstico de zika façam exames de ultrassons obstétricos mensais.
Hoje, o preconizado para as gestantes são três exames, no mínimo, um em cada trimestre da gravidez. Mas, no SUS, é comum a mulher realizar somente um ultrassom.
A nova orientação da Febrasgo (federação das sociedades de ginecologia e obstetrícia) é que as gestantes que tiveram zika façam ultrassons mensais até a 32ª semana. A indicação é que, na 22ª semana, o exame seja o morfológico, que permite medir o crânio e visualizar as estruturas internas do cérebro.
Caso o bebê apresente microcefalia ou outra alteração morfológica, a gestante deve ser encaminhada a um serviço de referência. Já para as gestantes assintomáticas, continua a recomendação de três ultrassons: no primeiro trimestre, no segundo (entre a 20ª e a 24ª semana), para avaliar a morfologia fetal, e no terceiro, perto da 32ª semana.
Segundo Geraldo Duarte, do setor de gestação de alto risco do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto e responsável pelas novas diretrizes da Febrasgo, a mudança se deve à falta de respostas para muitas questões envolvendo o zika. "Devemos ter paciência para o aprendizado."
O infectologista David Uip, secretário da Saúde do Estado de São Paulo, diz que o governo paulista prepara um novo protocolo de atendimento para gestantes, que incluirá o teste para o vírus da zika no pré-natal.
Não está definido, porém, se haverá aumento do número de ultrassons ou na cronologia deles. "As alterações cerebrais só aparecem depois da 24ª semana de gestação. Não faz sentido aumentar os ultrassons antes disso."
O Ministério da Saúde informou que não pretende mudar seu protocolo, que prevê só um ultrassom no primeiro trimestre de gestação. A pasta avalia que "o ultrassom em série não muda a condição e o prognóstico" de uma eventual má-formação.
PARTICULARES
Em consultórios privados, os médicos estão adotando critérios próprios. O obstetra Thomaz Gollop, especialista em medicina fetal, passou a indicar ultrassons mensais para todas as gestantes, independentemente dos sintomas –já que 80% dos casos de zika são assintomáticos.
"Enquanto o zika estiver assombrando, a mulher fica mais tranquila com um acompanhamento mais seguido."
Para Gollop, a medida é válida até que se confirme qual o real risco das grávidas em relação ao zika e quando é possível visualizar as alterações cerebrais no feto.
O obstetra Renato Kalil já recomendava cinco ultrassons e agora incluiu um sexto, na 16ª semana de gestação. "Nessa fase, já é possível observar eventuais alterações no diâmetro encefálico e nos ventrículos cerebrais."
Na opinião do obstetra Adolfo Liao, coordenador médico materno-infantil do Hospital Albert Einstein, neste momento, ultrassons mensais podem ser um "bom meio termo". Para ele, os exames mensais podem ser úteis a partir da 23ª semana, quando a maior parte das alterações podem ser identificadas.
"Doenças como a microcefalia são evolutivas, não são percebidas até um determinado estágio da gravidez." Mas ele pondera que, no SUS, essa rotina de exames não é factível. "Não há acesso nem para a recomendação mínima [de três exames]."
Para Manoel Sarno, especialista em medicina fetal da Bahia e que avaliou 80 casos de microcefalia ligada ao zika, é "desnecessário" aumentar o número de ultrassons.
"O que vai mudar? Não há tratamento para a infecção durante a gravidez, então, fazer mais exames não mudará o curso da má-formação."
Segundo ele, a inclusão de um exame a mais no pré-natal trará mais custos ao sistema. Na rede privada, porém, a gestante que pode pagar ou tem um bom plano de saúde, faz "até 20 ultrassons". "Ela faz o quanto ela quiser."
Pedro Ramos, presidente da Abramge (Associação Brasileira de Medicina de Grupo), diz que as operadoras estão sensíveis ao problema da microcefalia e que não devem resistir em bancar mais exames durante da gestação. "Se houver necessidade, nossa recomendação é autorizar."
Fonte: Folha de S.Paulo (Cláudia Collucci)