Imagens mostram ação da zika em bebês ainda no útero
Sexta-feira, 26/08/2016 - Categoria: Ultrassonografia Geral
As imagens contam uma história triste e já familiar no Brasil: o ataque do vírus da zika ao cérebro de bebês ainda no útero.
As imagens são de ultrassonografias e tomografias de 45 bebês brasileiros que tiveram suas mães infectadas pela zika durante a gravidez. A galeria de imagens é de um estudo publicado nesta terça (23) na revista especializada "Radiology".
A maior parte dos bebês no estudo tinha microcefalia, mas muitos deles também apresentavam outros problemas, como danos em importantes partes do cérebro: no corpo caloso, que conecta os dois hemisférios do cérebro; no cerebelo, que tem papel fundamental no movimento, equilíbrio e fala; e nos núcleos da base, envolvidos no processo de pensamento e emoções.
"Não é só o cérebro pequeno, há muito mais danos", diz Deborah Levine, uma das autoras do estudo e professora de radiologia da Universidade Harvard. "As anormalidades que vemos mostram os primeiros estágios da interrupção no desenvolvimento do cérebro."
Os resultados da pesquisa levantam preocupações sobre a possibilidade de bebês que nasceram saudáveis desenvolverem danos cerebrais durante o crescimento. Por exemplo, quase todos os bebês do estudo tiveram problemas no córtex, incluindo aglomerados de cálcio e neurônios que não alcançavam as regiões necessárias do cérebro.
Como o cérebro continua se desenvolvendo após o nascimento, "nós estamos preocupados com quadros mais suaves que ainda não foram detectados, por isso precisamos continuar monitorando os bebês após o nascimento para ver se eles têm alterações corticais", afirma Levine.
A infecção por zika foi confirmada nas mães de 17 bebês, enquanto nos outros 28 casos não houve confirmação laboratorial, mas estavam presentes todos os sinais da zika. Levine trabalhou com pesquisadores brasileiros para analisar imagens do Instituto de Pesquisa da Paraíba. Três dos bebês morreram nos primeiros três dias de vida. Os relatórios das autópsias foram analisados.
Os pesquisadores afirmaram que estão tornando públicas as imagens para que médicos de todo o mundo tenham uma ideia melhor do que procurar nos cérebros de fetos e recém-nascidos afetados pelo vírus.
O estudo sugere que a zika é capaz de agir de diversas formas. Segundo Levine, a doença ataca três pontos. O vírus impede que partes do cérebro se formem normalmente. Causa obstrução, porque mantem ventrículos e cavidades com fluídos, "cheios como um balão". E também destrói partes do cérebro já formadas. "O cérebro que deveria estar lá não está", diz Levine.
Três bebês do estudo não tinham a cabeça pequena o suficiente para entrar na definição de microcefalia. Em um deles isso aconteceu porque os ventrículos estavam cheios de líquido cefalorraquidiano que não foi drenado. "Os ventrículos incharam e mantiveram o crânio grande", diz Levine.
Nas imagens dos cérebros, obtidas com 36 semanas de gravidez e um dia após o nascimento, o fluído era tão proeminente que "parecia o crânio e muito pouco tecido cerebral", ela afirma. No topo da cabeça da criança há dobras, o que indica que ela já foi maior ou que a pele continuou a crescer mesmo após a cabeça parar. "Tem muita pele para o tamanho da cabeça", diz Levine.
Em uma das imagens do cérebro de uma bebê, as setas apontam para depósitos de cálcio nos núcleos de base, uma parte muito profunda do cérebro. A área branca em L acima e à esquerda das setas mostra calcificação na intersecção entre matéria branca e cinza, uma junção comumente danificada, segundo o estudo. As razões não conseguiram ser esclarecidas.
A contração de mãos e braços dos bebês também demonstra outro sintoma comum. A zika aparentemente danifica os nervos dos fetos, o que, às vezes, faz com que "os músculos não se desenvolvam normalmente por não receberem os impulsos nervosos para se moverem", diz Levine. "Quando eles nascem, eles ficam nessa posição contraída", afirma. "Eles provavelmente não podem mover as mãos".
As gêmeas que foram analisadas no estudo desenvolveram microcefalia. Contudo, em alguns casos, segundo Levine, apenas uma das crianças desenvolve a doença. Nesse caso, as duas tiveram uma mesma proporção de dano cerebral, o que sugere que elas foram infectadas ao mesmo tempo.
Anormalidades no corpo caloso foram encontradas em 38 bebês. "Em alguns deles, eu tenho certeza que o corpo caloso não estava lá", diz Levine. "Isso quer dizer que a região nunca se formou ou que foi destruída".
Fonte: Folha de S.Paulo