Experiência com o zika enfatiza o papel do exame de imagem
Trabalho realizado por equipe multidisciplinar em Recife (PE) mostra que análise meticulosa do SNC dos fetos é imprescindível para o diagnóstico
Quarta-feira, 09/11/2016 - Categoria:
O médico Pedro Pires, coordenador de Medicina Fetal do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros, em Recife (PE), contou a sua experiência no enfrentamento do Zika vírus em Pernambuco durante o Congresso Brasileiro de Ultrassonografia da SBUS, realizado em São Paulo (SP) no final de outubro. O assunto foi tratado também no Congresso Brasileiro de Radiologia, em Curitiba, com o objetivo de despertar toda a comunidade da área da imagem, incentivando pesquisadores na busca de caminhos para o diagnostico precoce.
Em entrevista exclusiva ao jornal ID Interação Diagnóstica, o dr. Pedro Pires falou sobre a força-tarefa montada em Pernambuco para o monitoramento do problema por uma equipe multidisciplinar, a criação do protocolo de tratamento e a repercussão internacional. “Aprendemos muito com a experiência de acompanhamento dos casos de Zika e ainda há muito a descobrir. Um benefício deste processo é que os colegas estão mais atentos agora na avaliação do Sistema Nervoso Central dos fetos durante os exames de imagem”, comentou.
Embora a má formação congênita cardíaca seja mais frequente, são entre 8 e 10 casos a cada mil nascimentos, a sua identificação em exames de imagem é mais difícil. No casos dos problemas no SNC dos fetos, o diagnóstico é mais fácil, explicou o médico.
Pedro Pires destacou também que, a partir de um detalhe que o intrigava, encontrou respostas com uma colega, a patologista e imunologista Patrícia Jungmann, que desenvolveu a hipótese de que a presença do Zika vírus nos neurônios pode agir como um indutor de apoptose, mecanismo de suicídio celular que promove redução de massa cinzenta no sistema nervoso central dos fetos.
“Observando as imagens de ultrassom, vemos que muitos fetos são normais até o sexto mês e depois as alterações aparecem. E além disso, esses bebês nascem sem quadro de infecção cerebral. Parece então que o Zika vírus criou uma situação que passou a comandar o desenvolvimento do cérebro, mudando o desenvolvimento dos neurônios. Assim surgiu a hipótese formulada por Patrícia Jungmann, que apresentou seu trabalho em conferência na França e que vai ser publicado no boletim da Organização Mundial da Saúde”, explicou o especialista.
De acordo com informações do Ministério da Saúde, o Brasil registrou, até 17 de setembro, 200.465 casos prováveis de Zika, uma taxa de incidência de 98,1 casos a cada 100 mil habitantes. Este ano, foram registrados no país 16.473 casos prováveis do vírus em gestantes.
Na próxima edição do jornal Interação Diagnóstica, você vai conferir a matéria completa sobre as experiências e descobertas da equipe de especialistas que acompanham os casos de bebês com lesões e outras sequelas provocadas pelo Zika vírus.
Fonte: ID