Entenda processo de investigação de malformação congênita em bebês
Tempo de investigação de casos pode demorar até 3 meses. Malformação pode ser percebida durante gravidez
Quarta-feira, 27/04/2016 - Categoria: Bem Estar
O tempo de espera para a investigação entre uma notificação e a confirmação ou descarte de casos de malformação congênita em bebês pode demorar até três meses. Segundo a diretora de Vigilância em Saúde de Campina Grande, no Agreste da Paraíba, a enfermeira Eliete Nunes, desde de que surgiu a suspeita de malformação congênita relacionada ao vírus da zika, os casos de notificações aumentaram de maneira significativa e, na cidade, o tempo de investigação pode chegar a três meses. Entretanto, nem todos acabam sendo confirmados.
Em João Pessoa, segundo o gerente de vigilância epidemiológica do município, Daniel Batista, o resultado do exame demora menos: cerca de um mês. Ele explicou que o material necessário para o exame é colhido em apenas um dia, ainda no hospital e, em seguida, é encaminhado ao Laboratório Central de Saúde Público do Estado. Posteriormente, ele é levado até ao laboratório de referência em Pernambuco, onde vai ser analisado, segundo Batista.
Na Paraíba, até o último dia 5, 103 casos de microcefalia já tinham sido confirmados e mais 386 seguiam em investigação.
Notificações
De acordo com Eliete Nunes, o processo de notificação acontece quando a gestante recebe diagnóstico de alguma doença que pode provocar a malformação, a exemplo de suspeita de relação com vírus da zika, ou através de ultrassonografia, quando é detectada alguma alteração no bebê. Como esse ainda não é um exame preciso para a complexidade de tipos de malformações, muitos casos são notificados para que possam ser investigados.
Investigação
Após a notificação, a equipe de vigilância de saúde de referência começa a preencher um formulário de recomendação do Ministério da Saúde e a gestante passa a ser acompanhada até o nascimento do bebê. Depois que a criança nasce é conferida a medida da circunferência da cabeça, que pode indicar a microcefalia, por exemplo. Entretanto, além deste exame é feito um exame de imagem chamado de transfontanela, que examina a cabeça do bebê. Ele tem mais respaldo e pode se constatar outros tipos de malformação ou alterações no sistema nervoso central, conforme explica a diretora.
Confirmação
Com o nascimento da criança e os exames, é feito outro formulário que é encaminhado para o banco de informações do Ministério da Saúde. No formulário, que contém nove páginas, são apontados todos os fatores que podem influenciar na malformação e o perfil das mães de bebês com este problema.
São questionados, por exemplo, consumo de bebidas alcoólicas ou drogas, doenças, resultados de exames e vacinas que a gestante tomou. Os dados são encaminhados para a Secretaria de Saúde do Estado que homologa a confirmação do caso.
“É possível identificar a malformação na gravidez, com a ultrassonografia, mas devido à complexidade dos casos que vão além da microcefalia, nós aguardamos o nascimento da criança para a realização de outros exames mais precisos. Assim é possível ter uma linha de investigação bem coesa. Afinal, é através destes dados que os profissionais de saúde estudam os casos”, explicou a enfermeira.
Descarte
Eliete Nunes destava que, apesar da notificação, e até a suspeita de malformação ou complicações através de imagens, muitos casos são descartados ao longo da investigação. “As vezes existem os indícios, mas está tudo normal. Isso acontece pela complexidade. A microcefalia tem se tornado a maior preocupação entre as mães, que ficam ansiosas para que a criança nasça com 32 centímetros de circunferência na cabeça. Mas, existem casos onde a criança é de fato pequena, como em partos prematuros, e depois é provado que não existe nada”, disse Eliete Nunes.
Novo padrão de medida
O Ministério da Saúde informou na quarta-feira que passou a adotar desde a semana passada os critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS) para definir se a criança tem microcefalia. Até então, o Brasil considerava a condição em bebês com perímetro da cabeça igual ou menor a 32 cm – conforme recomendava a OMS. A organização mudou o critério no fim de fevereiro. Agora, a medida caiu para 31,9 cm para meninos e 31,5 cm para meninas.
Segundo o coordenador-geral de Vigilância e Respostas às Emergências em Saúde Pública, Wanderson Oliveira, todas as secretarias regionais estão cientes do novo critério. “O que a OMS traz para a gente é uma padronização internacional que nos ajuda a organizar e comparar os dados com outros países”, explica
Oliveira disse que serão notificados apenas casos de crianças que se encaixem no novo critério. “O que não significa que, caso uma dessas crianças apresente alguma necessidade especial, elas não serão identificadas”, afirmou.
Relação com o vírus da zika
O processo de investigação de relação entre o vírus da zika e malformação cerebral em bebês pode demorar até dois meses após o nascimento da criança. “Por se tratar de uma avaliação mais complexa, quando a criança nasce são coletadas amostras de sangue do bebê e da mãe. Esse sangue é encaminhado para os laboratórios de referência do Ministério da Saúde, onde serão examinados e identificada a existência do vírus da zika ou qualquer outro problema no sangue”, destacou Eliete Nunes.
O Ministério da Saúde enfatizou que está investigando todos os casos de microcefalia e outras alterações do sistema nervoso central informados pelos estados e a possível relação com o vírus da zika e outras infecções congênitas.
A microcefalia pode ter como causa diversos agentes infecciosos além do zika, como sífilis, toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes viral e outros agentes infecciosos.
O orgão ainda orienta que as gestantes adotem medidas que possam reduzir a presença do mosquito Aedes aegypti, com a eliminação de criadouros, e proteger-se da exposição de mosquitos, como manter portas e janelas fechadas ou teladas, usar calça e camisa de manga comprida e utilizar repelentes permitidos para gestantes.
Fonte: G1