Diferenças entre curso de medicina do Brasil e da Rússia vão além do valor da mensalidade
Quarta-feira, 21/09/2016 - Categoria: Medicina
Método de ensino russo é mais rigoroso, tem salas com cerca de 12 alunos, chamada oral diária, provas mensais, semestrais e estágio obrigatório durante as férias
Não é a toa que a Rússia recebe, anualmente, centenas de estudantes brasileiros. O ensino do país, seja fundamental ou superior, é referência no mundo todo por suas tradições, rigidez e qualidade. Com isso, o número de pessoas que deixam o Brasil para estudar em um dos principais sistemas de educação da Europa tem aumentado e o curso de medicina está entre os mais visados.
De acordo com o Ministério da Educação da Federação da Rússia, entre 2013/2014 a maior nação do mundo recebeu mais de 43 mil alunos estrangeiros. Destes, 17,7% foram em busca de graduação médica, grande parte deles brasileiros. Segundo a Aliança Russa, representante oficial das universidades russas no Brasil, cerca de 200 estudantes saíram do país rumo à Rússia só em 2015, todos com o sonho de se tornarem médicos.
E a escolha pelo país tem suas justificativas. Além de oferecer os cursos na língua inglesa, possibilitando a preparação dos alunos para provas internacionais e para a conquista de bolsas de pós-graduação e concursos públicos pelo mundo, o cenário educacional russo está repleto de qualidades e atrativos. Veja abaixo as principais diferenças entre o Brasil e a Rússia, quando o assunto é a faculdade de medicina:
Instituições de ensino: De acordo com o ranking internacional QS (Quacquarelli Symonds), a Universidade de São Paulo (USP) é a brasileira mais bem colocada na área médica. Na Rússia, quem aparece em primeiro lugar é a Estatal de Moscou Lomonosov (MGU).
Vestibular: Para entrar em uma faculdade de medicina no Brasil, uma das melhores alternativas é o ENEM, que consiste em duas provas de 90 questões cada (mais uma redação), ou por meio de vestibulares como a FUVEST (um dos mais concorridos nacionalmente). Neste último caso, é preciso ter um bom desempenho nas 90 questões da primeira fase (sem zerar em nenhuma das matérias) e ainda se empenhar muito na segunda etapa, que possui três dias de prova dissertativa.
Já na Rússia, para conseguir o diploma de medicina, o estudante brasileiro não precisa prestar vestibular. A seleção acontece por meio de entrevistas virtuais, que analisam o perfil do candidato e da família, e são realizadas pela Aliança Russa, única empresa brasileira a prestar esse serviço. Segundo a diretora da entidade, o processo seletivo acontece diversas vezes ao ano e permite que o aluno ingresse em renomadas faculdades, como a KSMU - Universidade Médica Estatal de Kursk, que está entre as 10 melhores do país e possui mais de 10 mil alunos em medicina, dos quais 3.200 são estrangeiros e 500 deles brasileiros.
Período/semestre: Tanto nas universidades nacionais, quanto nas russas, os cursos são realizados em período integral e exigem, no mínimo, 12 semestres para a formação de um médico.
Metodologia: O método de ensino pode mudar de acordo com cada universidade, mas no curso de medicina da USP, aplicado na cidade de São Paulo, por exemplo, as disciplinas são semestrais e integram as ciências básicas e as clínicas. Segundo Edmund Chada Baracat, presidente da Comissão da Graduação da FMUSP, as atividades teóricas e práticas são aplicadas desde o início do curso. “Temos também modelos de simulação, discussão de casos clínicos e até o ‘ensino baseado na comunidade’, que ocorre no primeiro ano e proporciona aos estudantes um contato mais direto com a população”, explica. As aulas na FMUSP podem ser apresentadas para até 80 alunos (capacidade máxima das salas), mas dificilmente lotam.
Quanto à metodologia do país europeu, Carolina Perecini, diretora da Aliança Russa, conta que as universidades seguem uma linha mais rígida, até porque, normalmente, há apenas 12 alunos por sala, o que possibilita uma cobrança maior por parte dos professores. Sobre os ensinamentos práticos, a diretora diz que eles começam a partir do quarto ano, quando todas as aulas são realizadas dentro de hospitais. “Desde o primeiro ano da faculdade o estágio no período de férias é obrigatório e, a partir do 4º ano, pode ser realizado em qualquer país da Europa”, revela.
Caso o aluno precise aprimorar seus conhecimentos da língua russa ou inglesa, ele passa pela Faculdade Preparatória, que é feita antes da graduação ou pós-graduação, e mantém o foco no vocabulário médico. O curso tem a duração de 3 a 6 meses para o inglês e de 9 a 15 meses para o russo.
Avaliação: As universidades brasileiras costumam aplicar testes práticos e teóricos para cada disciplina e a USP segue esse tipo de avaliação. “Também temos uma prova no final de cada semestre, com o comitê permanente”, conta Baracat. Esse teste tem um peso de 20% nas provas disciplinares e avalia não apenas o aluno, mas também o conteúdo oferecido.
Já na Rússia, há provas gerais semestrais e a cada quatro semanas, além de notas diárias (das chamadas orais), que são realizadas no final das aulas. “Em todas as avaliações, seja escrita ou oral, caso o aluno não atinja a nota mínima, que no Brasil equivale a 7,5, o primeiro teste é desconsiderado e ele precisa refazê-lo até alcançar a pontuação necessária”, afirma Carolina.
Custos: Com a ajuda do governo russo aos estudantes estrangeiros, um semestre de medicina na Rússia custa aproximadamente US$ 2.500,00. No Brasil, as universidades mais baratas costumam cobrar cerca de R$ 4.000,00, por mês, só pelo curso.
Diploma: Graças ao Diploma Único de Estudos Superiores da Europa, do qual a Rússia faz parte, o diploma universitário russo é reconhecido em toda a União Europeia, o que possibilita a mobilidade e a atuação dos médicos pelo continente. Para os profissionais formados no Brasil, quem desejar atuar no exterior, pode passar por revalidações de diploma ou precisar de certificações. Nos EUA, por exemplo, às vezes é exigida formação adicional.
Aprendizado: Em 2015, de acordo com o Exame do Cremesp, que avalia o desempenho dos recém-formados em medicina de São Paulo, 48% dos médicos foram reprovados. E, das 30 escolas avaliadas, metade atingiu 60% de aproveitamento.
No mesmo ano, dos 20 estudantes da KSMU que fizeram o Revalida - Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos, 17 foram aprovados na primeira tentativa. A prova é obrigatória para médicos formados no exterior que querem atuar no Brasil e a Aliança Russa tem registro de alunos que tiveram excelentes desempenhos: “Devido às exigências e ao rigor das universidades russas, percebemos que a maioria dos médicos que voltam para o Brasil não enfrenta dificuldades com o exame. Em 2015, por exemplo, 80% dos alunos formados na Universidade Médica de Kursk que fizeram a prova foram aprovados já na primeira vez que fizeram o Revalida”, comenta a diretora Carolina.
Além do que já foi citado, outros procedimentos do curso de medicina na Rússia e no Brasil podem ser diferentes, mas também há exigências em comum, como a obrigatoriedade do trabalho.
Fonte: Portal Nacional de Seguros