Diagnóstico tardio coloca em risco pacientes com câncer de mama no RJ
Mulheres levam até nove meses para ter diagnóstico de câncer de mama. Essa demora significa perda de um tempo precioso
Sexta-feira, 01/07/2016 - Categoria: Bem Estar
Pesquisa encomendada pela Fundação Laço Rosa mostrou um dado preocupante: no estado do Rio de Janeiro, pacientes levam, em média, de oito a nove meses para receber o diagnóstico de câncer de mama. Essa demora significa a perda de um tempo precioso para quem precisa combater a doença.
“Tenho me sentido muito cansada, muita falta de ar, claro, a minha mama como você pode ver já está toda tomada, a minha axila também... Dói, parece que está esticando o seio, parece que está puxando a pele, esticando, é aquela queimação, o peito queima. Meus pés têm dia que eu não consigo colocar no chão. E quando eu boto dói e não consigo ficar em pé”, relata a vigilante Lílian Leal.
Aos 37 anos, Lílian acaba de ouvir do médico do Instituto Nacional do Câncer (Inca) que a doença avançou. Assim que sentiu o nódulo na mama, ela se consultou com dois médicos particulares, mas nenhum dos dois deu o diagnóstico correto e em quatro meses o tumor aumentou muito, como mostram exames de ultrassom.
“Me sinto muito indignada, triste, porque eu sou uma pessoa muito alegre, quem me conhece sabe como eu sou extrovertida, o que eu posso ajudar eu faço pra ajudar, independente de quem for, de quem seja”, relata emocionada.
Oito meses. Foi o tempo que a operadora de caixa Dirleia Leite demorou desde que descobriu o caroço no seio até começar o tratamento contra o câncer. Ela só conseguiu a vaga no Inca porque entrou na Justiça: “Eu descobri em abril de 2014, tive certeza em agosto de 2014 e comecei o tratamento em dezembro de 2014. Bate uma angústia, uma ansiedade, porque você não sabe o que está acontecendo com o seu corpo e você precisa de um tratamento urgente”.
Dirleia fez cirurgia, quimioterapia e radioterapia e hoje se sente bem. Alívio para Dirleia, desespero para Lílian e para tantas outras mulheres que, sem conseguir tratamento, veem o câncer de mama se alastrar para outras partes do corpo. Isso apesar de existir uma lei federal que determina um prazo máximo de dois meses, a partir da confirmação do diagnóstico, para que pacientes com câncer comecem o tratamento pelo Sistema Único de Saúde.
Nessa doença, o tempo é precioso. “A doença é uma fábrica de células malignas. São milhões de células fabricadas por minuto e elas sempre tentam sair do órgão em que elas estão para ganhar o corpo e ganhando o corpo, ela passa a ser uma doença, um câncer do corpo inteiro”, explica Roberto Vieira, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia.
Quando Lílian finalmente conseguiu um atendimento no Hospital da Mulher, na Baixada Fluminense, a doença tinha piorado: “Ele disse que era pra eu ficar calma, que era muito difícil estar nessa situação e ficar calma. É muito ruim você ver uma coisa ruim crescendo de você não poder fazer nada, depender de alguém, esperar a atitude de alguém. E aquilo vai crescendo, vai te tomando, você sem poder fazer nada. Você só olha e vê crescer, vê tomar você. E você ter que ser forte”.
Lílian foi encaminhada para tratamento no Inca. Na semana passada, o médico mandou que ela fizesse vários exames, em datas diferentes, até julho. Mais espera para quem não pode mais esperar. “Eu quero lutar contra esse câncer. Tenho os meus quatro filhos que precisam de mim, abaixo de Deus. Por mais que eles tenham pai, mas eu sou o pai e a mãe deles. Passar um monte de exames com datas diferentes se eu estava lá, disponível para fazer o exame. Que eu consiga fazer esses exames logo, o mais rápido possível, porque eu quero começar logo o tratamento, é o que eu quero”, lamenta.
O Instituto Nacional de Câncer informou, em nota, que Lílian foi submetida a uma avaliação da equipe de mastologia no mesmo dia em que recebei o diagnóstico e que o tratamento deve começar o mais rápido possível.
O Ministério da Saúde, também em nota, informou que oferece, através do Sistema Único de Saúde, atendimento integral e gratuito para todos os tipos de câncer e que vem aumentando a oferta de serviços, junto com os governos estaduais e municipais, para agilizar o atendimento.
Fonte: Jornal Hoje