Brasil tem mortalidade materna acima do recomendado pela ONU
Apesar de a cobertura pré-natal atingir 91% das mulheres, país tem um índice de 62 mortes a cada 100 mil nascimentos. Segundo a Organização das Nações Unidas, este número deveria ser de no máximo 30. São 32 mil óbitos por ano no útero ou durante o parto.
Segunda-feira, 13/07/2015 - Categoria:
Desempregada, Ellen Fernanda da Silva, de 18 anos, estava há duas semanas com infecção urinária quando a reportagem CBN a acompanhou no agendamento de um exame na rede pública. Aos sete meses de gestação, ela sentia dores para caminhar. ‘Não tenho R$ 400 para pagar um exame.’ Após procurar atendimento em três postos de saúde, Ellen foi medicada.
Já Solange Aparecida Baesso enfrentou uma série de dificuldades até a morte da pequena Maria Eduarda ainda na barriga da mãe. Isso porque a gestação dela era tratada como uma hérnia abdominal. Aos 44 anos de idade e acima do peso, ela pensava que o corpo se preparava para entrar na menopausa. ‘Descobri com seis meses de gestação que estava grávida e não conseguia marcar ultrassom’, lembra.
Atualmente, a cobertura de pré-natal atinge 91% das mulheres, mas, como mostram os relatos de Ellen e Solange, o agendamento de exames é um grande problema. Isso porque, em muitas cidades brasileiras, os equipamentos são insuficientes. O Ministério da Saúde justifica que a responsabilidade por esse tipo de serviço é dos gestores municipais e estaduais.
A Organização Mundial da Saúde recomenda, no mínimo, seis consultas durante o pré-natal e uma no pós-parto. Os especialistas sugerem entre dois e três ultrassons.
Para o membro da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia Olímpio Barbosa, não basta expandir a rede pública sem melhorar a qualidade do atendimento. ‘Não adianta oferecer o pré-natal, se ele não tem qualidade e não consegue detectar os problemas gestacionais’, afirma.
Os desafios para a futura mãe na rede pública são inúmeros. Entre eles, a má formação dos profissionais e a falta de especialistas que atendem no pré-natal.
Na Zona Leste de São Paulo, a auxiliar de enfermagem Anita Machado, de 32 anos, nunca passou por uma consulta com um obstetra até o nascimento do filho. O acompanhamento médico era feito por um clínico geral e uma enfermeira. Ela diz que a médica nunca receitou vitamina. Após a falta de acompanhamento, o bebê nasceu prematuro e abaixo do peso.
A taxa de mortalidade materna no país é uma das maiores do mundo. A cada 100 mil nascimentos, 62 mulheres perdem a vida, mas pelas metas da ONU, esse número deveria ser de no máximo 30. As principais causas são hemorragia, hipertensão, infecção e aborto. No Brasil, o número de óbitos dentro do útero ou durante o parto impressiona: 32 mil por ano.
A coordenadora-geral da Saúde das Mulheres do Ministério da Saúde Esther Vilela reconhece a gravidade do problema, porém ressalta que o país avançou na cobertura de pré-natal nos últimos 12 anos. ‘A morte materna é evitável em 92% dos casos, sempre nos preocupamos com isso. Porém, temos que comemorar porque entre 1990 e 2012 a taxa de mortalidade caiu 57%’, relata.
O último relatório da ONU sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher concluiu que apesar do Brasil oferecer uma cobertura de pré-natal de 91% e de partos hospitalares de 98%, o alto índice de mortalidade materna sugere que esses serviços têm má qualidade no país.
Fonte: Rádio CBN (por Elaine Freires)
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