Brasil desenvolve teste que detecta simultaneamente zika, dengue e chikungunya
Sexta-feira, 13/01/2017 - Categoria: Medicina
Já estão em produção no laboratório Bio-Manguinhos da Fundação Oswaldo Cruz os kits de testes que detectam simultaneamente infecções por zika, dengue e chikungunya. Desenvolvido em conjunto com o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), sob coordenação do Ministério da Saúde. O registro do kit molecular ZDC na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi publicado em 19 de dezembro de 2016 no Diário Oficial da União.
O kit identifica no sangue do paciente o RNA dos três vírus e permite determinar qual das arboviroses transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti está presente na amostra. O teste, que usa a técnica PCR (reação em cadeia da polimerase) em tempo real, pode ser usado tanto para o diagnóstico total dos três vírus quanto para diagnósticos parciais de um ou dois deles, de forma separada, e possibilita o diagnóstico na fase inicial da infecção.
À amostra de sangue do paciente com sintomas de uma das três infecções é adicionada uma partícula calibradora, que consiste em um vírus com características semelhantes, produzido e patenteado pela Fiocruz, mas sem potencial infeccioso. O resultado é obtido em cinco horas.
De acordo com Antônio Gomes Pinto, gerente do Programa de Reativos para Diagnóstico, a tecnologia de PCR em tempo real usada no kit envolve uma reação em triplex (com alvos de zika, chikungunya e controle interno) e uma reação duplex (alvo dengue e controle interno). Esses controles internos são as partículas calibradoras da Fiocruz.
"As partículas calibradoras são adicionadas à amostra no momento da extração do ácido nucleico e permitem verificar e confirmar se as etapas de extração, amplificação e detecção ocorreram como esperado. Temos como validar o processamento, o que implica significativa garantia e segurança para este tipo de diagnóstico", explicou Pinto em entrevista ao Medscape.
Os alvos de zika, dengue e chikungunya presentes nas reações triplex e duplex são obtidos a partir de amplificação com primers específicos para o material genético desses vírus. No caso da dengue, o teste consegue detectar se há infecção mas não consegue discriminar os sorotipos DENV-1, DENV-2, DENV-3, DENV-4,.
"Em nosso laboratório temos o protótipo de outro produto para detecção e discriminação dos quatro sorotipos de vírus da dengue. Se houvesse interesse do Ministério da Saúde, poderíamos registrar e distribuir este novo kit rapidamente", diz o pesquisador, acrescentando que seu grupo também trabalha em uma nova versão aperfeiçoada do kit, onde será possível realizar uma única reação quadriplex (zika, dengue, chikungunya e calibrador).
"Este modelo ampliaria ainda mais a capacidade operacional, mas estimamos que a nova versão só seja alcançada em um ano", afirma.
O laboratório Bio-Manguinhos já está produzindo os primeiros lotes (com a versão triplex e duplex) para uso no Sistema Único de Saúde (SUS) e a produção pode chegar a um milhão de reações por ano. O laboratório apenas fornecerá os kits; as unidades de saúde realizarão os exames in loco. Segundo Pinto, a instituição ainda aguarda a formalização do Ministério da Saúde quanto à demanda necessária. Mas, como a produção já começou, uma vez que a encomenda seja feita, será possível iniciar a distribuição e o uso do kit dentro de 30 a 45 dias.
O kit não atenderá a rede privada, já que a prioridade é o atendimento das demandas de saúde pública. A Fiocruz afirmou em comunicado que a produção dos kits poderá representar uma economia de mais de 50% aos cofres públicos, pois atualmente os insumos são obtidos de fornecedores internacionais. A estimativa de custo para realização do diagnóstico é de 20 dólares por teste simultâneo para os três vírus.
Fonte: Medscape