Edição − Setembro/2016 - Categoria: Ecocardiografia e Ecografia Vascular
Uso atual do Contraste de Microbolhas na Vigilância dos pacientes submetidos à Correção Endovascular do Aneurisma de Aorta Abdominal (EVAR)
Dr. Marcos Roberto Godoy
Formado pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos - UNILUZ, o Dr. Marcos Godoy é especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular pela SBACV/AMB e atua como preceptor de ensino do Serviços de Cirurgia Vascular do HSPE - SP, também é médico coordenador dos cursos de Ecografia Vascular das Artérias Abdominais, Ecografia Vascular Periférica: Arterial e Venoso, Prática Intensiva em Ecografia Vascular e Fístulas Artério Venosas do Cetrus.
Instituição
Cetrus – Centro de Ensino em Tomografia, Ressonância e Ultrassonografia
Uso atual do Contraste de Microbolhas na Vigilância dos pacientes submetidos à Correção Endovascular do Aneurisma de Aorta Abdominal (EVAR)
A correção endovascular do aneurisma de aorta é uma alternativa segura à correção cirúrgica aberta, mas necessita de seguimento por tempo prolongado devido a complicações tardias, como a migração dos stents, kinkings e endoleaki.
O endoleak (expressão utilizada para definir vazamento após a colocação de uma endoprótese vascular) é a complicação mais freqüente após EVAR, cuja definição é a persistência de fluxo sanguíneo fora do lúmen da endoprótese, mas dentro do saco aneurismáricoii.
Os endoleaks são classificados em 5 grupos: tipo I, com vazamento através do local de fixação da endoprótese (que pode ser proximal – tipo Ia, ou distal- tipo Ib), tipo II originado através de vasos colaterais, tipo III resultante de falha ou desconexão na endoprótese, tipo IV devido a porosidade do material e tipo V, considerado como endotensãoiii. A presença de endoleak pode causar aumento do diâmetro do aneurisma e consequente ruptura; o tipo II (originado a partir de colaterais) é o mais freqüente, e pode ser detectado pelo ultrassom.
Para a detecção de outras complicações como a migração dos stents ou a presença de kinkings, o ultrassom não é considerado um bom método, preferindo-se a angio-tomografia ou a angiografia por subtração digital.
Para a vigilância dos pacientes submetidos à EVAR, habitualmente é utilizada a angio-tomografia multislice iv·, mas existem implicações, como a nefrotoxicidade e a exposição pelo paciente à radiação; portanto, outro exame diagnóstico menos invasivo torna-se útil para avaliação.
O duplex-scan é um exame de imagem não invasivo, porém a sensibilidade para a detecção de endoleak varia entre 42,9 a 97 %v. Atualmente a técnica CEUS (Contrast-Enhanced Ultrasound), utilizando contraste de microbolhas, apresenta ótima sensibilidade na detecção de endoleaks. No Serviço de Cirurgia Vascular do Hospital do Servidor Público Estadual- SP recentemente iniciamos o uso da técnica (Fig. I e II).
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Evidências recentes apontam boa sensibilidade do método:
- Iezzi et alvi , comparando o duplex-scan convencional com a técnica CEUS, relataram aumento na detecção de endoleaks, com sensibilidade de 62,5 vs 97,5 %, valor preditivo negativo de 65,1 vs 97,3 %, acurácia de 63,6 vs 81,8 % e especificidade de 63,6 % vs 81,8 %, respectivamente.
- Gurtler et alvii, no acompanhamento de 132 pacientes submetidos a EVAR, comparou a técnica CEUS com a angio-tomografia para detecção de endoleak. A sensibilidade da imagem CEUS foi de 97 % e a especificidade de 93 %, concluindo que a sensibilidade das duas técnicas de imagem foram equivalentes.
Acredito ser importante citar a publicação recente de Ormesher et alviii, utilizando tecnologia de ponta, comparando a imagem 3 D com a técnica CEUS versus a angiografia por subtração digital na detecção de endoleaks no intraoperatório de EVAR em 20 pacientes. Neste estudo, a angiografia detectou 3 endoleaks ( 1 tipo I e 2 tipo II), enquanto a técnica CEUS em 3D detectou 13 endoleaks ( 11 tipo II e 2 tipo I), sendo que foram realizadas a correção intraoperatória dos endoleaks tipo I e 9 casos de endoleak tipo II, identificando o vaso colateral de reenchimento, concluindo que essa técnica tem o potencial de complementar ou até substituir a angiografia intraoperatória para a detecção de endoleaks no pós-operatório imediato dos procedimentos de EVAR.
Desde 2011, a técnica CEUS é a primeira modalidade de imagem recomendada para a detecção, classificação e seguimento dos endoleaks presentes no aneurisma de aorta abdominal pelo guideline da European Federation of Societies for Ultrasound in Medicine and Biology¨ii.
Conclusão:
A técnica CEUS tem boa sensibilidade para o diagnóstico de endoleak, com a vantagem de ser um método minimamente invasivo.
A angio-tomografia atualmente é o exame preferido para o seguimento pós-EVAR, porém sugere-se que o acompanhamento seja substituído pelo ultrassom (técnica CEUS) quando após o seguimento inicial não existem evidências de complicações e o diâmetro do aneurisma estabiliza-seix.Inversamente, a angiotomografia deve ser reservada para os casos onde há evidência de aumento do diâmetro do aneurisma ou suspeita de endoleak.
O diagnóstico intraoperatório de endoleak apresenta alta sensibilidade com o uso do ultrassom em conjunto com o contraste de microbolhas.
Referências Bibliográficas
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- vi Roberto Iezzi, Raffaella Basilico, Daniela Giancristofaro, Danilo Pascali, Antonio Raffaele Cotroneo,
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- viii David C. Ormesher, Christopher Lowe, MRCS, Nicola Sedgwick, Charles N. McCollum, Jonathan Ghosh. Use of three-dimensional contrast-enhanced duplex ultrasound imaging during endovascular aneurysm repair (J Vasc Surg 2014;60:1468-72.)
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